Srta. Mary

Digamos que eu não seja uma pessoa muito distraída, o que acontece comigo são pequenos  acidentes percalços na vida.

E é cômico se não fosse trágico, porque sempre que acontecem essas coisas comigo e depois verificam que tudo está bem claro, ficam fazendo piadinhas a respeito.

 

Cama Box 1 X Bruna Mary 0

Quando eu morava em Maringá, eu morava em uma kitnet, aqueles minúsculos apertamentos de no máximo 4 m² em que a gente faz milagre pra caber todos os móveis lá dentro. Você acorda e já tá na cozinha, se cair sentada cai dentro da privada, toma banho e já cai na cama e assim vai! Eu tinha ainda uma cama box de casal (olha a proeza) que ocupava, claro, quase que metade do apartamento. Todo mundo conhece uma cama box, ela tem uma parte bem dura embaixo de madeira e o colchão macio de mola em cima. E justo neste dia (nem lembro qual, em meados de 2007) esta parte de madeira estava milimetricamente posicionada além do colchão macio e gostoso.

Eu estava pronta pra ir a academia, só esperando dar a hora pra por o tênis e sair, enquanto eu esperava pra ir fiquei no computador ouvindo música, falando com a galere, enfim…quando deu a hora eu me levantei e…CAPOFT (onomatopéia gente)!

Na mesma velocidade que eu cai, eu me levantei e me joguei na cama de barriga pra baixo com a cabeça no travesseiro e comecei a praguejar  a vó, a mãe de quem quer que fosse, porque tipo assim, tava doendo pra car***!

Eu meio que senti que tava meio molhadinha minha mão sabe, então eu levantei a cabeça e…momento filme…sabe quando nos filmes batem com algo na sua cabeça e começa a sangrar e você olha o sangue escorrendo pela cara e cai morto? Então, não é tão fácil bater na cabeça e morrer gente, porque o sangue começou a escorrer na minha cara e pingar no travesseiro e eu não morri, eu levantei e sai correndo gritando o nome do meu vizinho!

Meu vizinho era enfermeiro, quer dizer ele é, mas não é mais meu vizinho, e ele perguntou se alôca aqui tava tentando se matar. Sugestão ótima: more sempre do lado de alguém que não tenha pavor de sangue, de preferência médico ou enfermeiro, porque ele não vai desmaiar junto com você.

No hospital, já tinha parado de escorrer sangue, mas eu tava DIBUNITA com o cabelo duro todo virado de um lado, com um arrombo na cabeça, andando meio torta e prestes a desmair porque a pressão tava caindo. Todo mundo ficou olhando com aquela cara de “a briga foi feia”, mas logo me levaram pra observação. Lá eu liguei pra minha mãe, sente a conversa:

– Mãe, tô aqui no hospital tal, cai dentro do ap e bati a cabeça, fez um corte mas eu tô bem, eu acho.

– Tá bem?

– Tô.

– Então eu vou dar janta pro pessoal aqui em casa daí depois a gente vai aí!

Minha mãe é de um preocupação imensa! É que nesse dia meu pai não estava, se não ele  já tinha feito 48km em 15 minutos! Minha mãe é tranquila, aliás muita calma nessa hora.

Levei uns pontinhos, nada de grave, e quando eu sai, claro, minha tia teve que tirar uma foto, porque afinal não é todo dia que alguém cai e quase consegue se matar dentro de um apertamento que é menor que o quarto da sua mãe.

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Espiral 1 x Bruna Mary 0

Todo mundo já viu aqueles espirais que vão queimando e soltando uma fumacinha que espanta pernilongo? Tipo incenso. Então, aqui tem muito pernilongo e como tá quente, isso aumenta e muito! Daí, eu com a minha cabeça já batida acidentalmente, não muito boa e nem muito inteligente tive a brilhante idéia de comprar um desses espirais, porque meu tio costuma usar bastante lá na chácara e funciona.  Esses treco vem com um metalzinho pra você apoiar, mas como eu já tinha queimado um trequinho e deixei em cima da mesa a empregada com certeza achou que era lixo e jogou fora! Enfim, tive que usar minha mente brilhante pra achar outro negocinho pra apoiar, porque sem apoio o treco não queima! Já tinha usado uns 4 desses treco e aqui onde tem o computador tem muito pernilongo, eu deixava um queimando perto do apoio de braço do sofá pra espantar pernilongo, mas sempre lembrava de apagar quando ia dormir ou ia sair do computador.

Mas, como tudo nessa vida tudo que é bom dura pouco ou dá merda…deu merda!

Tava eu no computador e minha mãe me chamou pra jantar e eu fui néam. Minha tia e meu tio estavam aqui também então a conversa sempre se estende e a gente fica conversando na mesa. Sorte que meu pai resolveu levantar depois de uns 15 minutos:

– Mas que cheiro de queimado!

Eu levantei também, olhei e já ia dizer:

– Acho que não é aqui.

 Quando eu decidi que tinha que ir até a sala do computador mesmo…aí eu vi que a almofada do sofá da minha mãe tava tipo assim, PRETA e VERMELHA! E depois tudo ficou cinza porque levantou uma fumaça, uma fumaça fedorenta ainda por cima!

Tava pegando FOGO!

Mas sem labareda, tava tipo igual incenso, queimando devagar, mas o tecido de metade da almofada já tinha virado fumaça! Ninguém ficou bravo, ao contrário, deram até risada porque eu tava tentando incendiar minha casa ¬¬ e no outro dia minha mãe ainda diz:

– Vi no jornal uma menina de 3 anos que se queimou toda com vela porque os pais deixaram ela em casa sozinha. Eu nem deixei uma de 24 anos sozinha e quase que ela bota fogo na casa!

Hoje meu pai me trouxe um repelente.

Tava eu aqui sentada na frente do computador e comecei a lembrar de quando eu era pequena (de idade porque de estatura ainda sou), ou de lembrar das coisas que eu lembro né.

Dou muita risada vendo os vídeos de quando eu era criança, falando “eu goshto de malanchia” (tradução: eu gosto de melancia), mais ainda quando eu vejo que eu curtia demais New  Kids on The Block e queria dançar igual eles na escada igual Step by Step e morria de amor pelo Jordan e o seu topete! BUNIIIITO!

Não lembro, quer dizer não fui o tipo de criança arteira, que tem altas histórias pra contar mas as que eu fiz eu lembro bem porque marcaram e eu dou risada, porque nem eu acredito que eu fiz, e  o que eu não fazia de dia eu fazia a noite dormindo,  explico.

Quando eu tinha os meus 5/6 anos de idade eu comecei a ter ataques de sonambulismo. Poisentão, eu tinha esse costume de levantar da cama dormindo e sair por aí andando pela casa no meio da noite, altas madrugadas e eu lá andando pra lá e pra cá e meus pais me seguindo, imagine, só imagine, nem eu consigo me visualizar nessa cena. A casa que eu morava era sobrado e eu descia as escadas sem rolar, afinal, eu não me lembro de acordar de ponta cabeça no meio da escada, acendia as luzes, dava um rolê no piso debaixo, depois subia e voltava a dormir. Era praticamente rotina, suuuuper normal. Daí, um belo dia, meus pais tão lá dormindo e começam a ouvir o barulho do chuveiro “ALOCA TÁ TOMANDO BANHO DORMINDO, CORRE BERENICE”. Hehe, mentchyra não falaram assim, mas foi mais ou menos assim e saíram correndo a tempo de me salvar do chuveiro. Nem lembro se eu tava sonhando que eu tava suja, ou se eu tinha algum tipo de TOC de limpeza, mas lembro de ter acordado com um pijama diferente. Depois disso eu nunca mais tomei banho…dormindo. Eu não sou mais sonâmbula (eu acho) e ninguém poderia me dizer se dos 16 aos 23 anos eu andei por aí a noite dormindo porque eu morava sozinha, então não sei! Mas eu ainda falo, canto, me remexo muito durante o sono e um dia minha irmã disse que eu tava cantando funk, OI? 

Lá em SP ainda, tinha minha vizinha que era mais ou menos da minha idade e todo dia eu ia lá pra brincar de Barbie ou qualquer outra coisa. A casa dela também era sobrado e o andar de cima era todo de carpete.  Pais, criança + carpete são coisas que definitivamente não combinam, ficadica! No auge da minha sapequisse e da vontade de fazer algo inovador e diferente com ajuda da minha amiguinha, tivemos a  mirabolante idéia de fazer uma receita, se não bastasse a receita, tinha que usar o carpete de panela! Um mistura de perfume + talco, Jamie Oliver ia shorar molho de tomate de inveja do bolo cheiroso que virou!!! Não contente na mistura + carpete, tinha que ser debaixo da cama da mãe e do pai da vizinha! Me lembro bem que eu não levei bronca e até hoje eu não sei bem o por quê. 

“Não sendo em casa pode tudo, vai lá filhona!”

Ainda no auge dos meus 5/6 anos, eu tive a proeza de descascar o papel de parede que meu pai tinha acabado de colocar na sala  da tv. Esse dia sim, eu fiquei sentada numa almofada olhando meu estrago quase o dia inteiro, viu que como na casa dos outros pode tudo, em casa não, aprenda! Eu nunca mais fiquei de castigo na minha vida e nem fiz proezas mirabolantes, prova que castigos funcionam. Prova de que pode tudo na casa dos outros, minha irmã colou massinha de modelar na porta inteira da casa da minha tia e não ficou de castigo, minha sobrinha rabiscou a parede do quarto da minha mãe com desenhos lindos e não ficou de castigo. Viu só, na casa dos outros pode tudo, leva seu filho na casa da tia pra extravazar!

Ainda nessa época, lembro bem que eu tinha ódio mortal as calças xadrez que minha mãe insistia em por em mim e ainda tinha que colocar suspensórios. Era ver aquela estampa quadriculada pra eu fechar a cara e fazer bico o dia inteiro. E o mais engraçado é que hoje eu adoro tudo que tem xadrez, acho lindo. Vai entendê! O mais legal é que tenho um orgulho tremendo da minha mãe ter um puta gosto pra vestir a gente. Tô falando sério mesmo.Mesmo tendo ódio mortal de calça xadrez, minha mãe sempre colocava na gente roupas bonitinhas tenho que confessar, tava sempre na modinha infantil!

Que eu me lembre, não dei trabalho aos meus pais, não fui criança de deitar no chão da loja de brinquedos porque queria uma barbie, ou de fazer birra, mesmo quando minha mãe queria por uma calça xadrez. Fui boazinha eu juro Papai Noel! Acho que fui criança só isso e tenho que agradecer meus pais que me educaram bem pra car**** e sempre me deixaram fazer arte na casa dos outros! Hahahaha.

Srta. Mary

"Tenho várias caras. Uma é quase bonita, outra é quase feia. Sou um o quê? Um quase tudo."

Clarice Lispector

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